O que é acordar e, de súbito, ver
Que o mundo é vago, disperso, sem nexo,
E só o amor insiste em tecer
Um fio de luz num espaço complexo?

O que é notar que o ouro é detalhe,
Apenas sustento, jamais direção,
E que na ternura de um abraço que vale
Reside o alívio, repousa o chão?

O que é sentir o tempo escoar,
Feito areia fugaz entre os dedos,
Olhar-se no espelho e, sem perguntar,
Ouvir do silêncio segredos e medos?

O que é ser só no meio da rua,
Cercada de rostos sem voz, sem cor,
E ter um amor que, em palavra nua,
Diz "bom dia" e transforma a dor?

O que é despir-se de toda armadura,
Contar seus conflitos sem hesitação,
E ser recebida com a mesma ternura,
A franqueza exata, a mesma emoção?

É sentir que a vida é instante fugaz,
um sopro, um verso, um breve alvorecer,
e que só o amor, tão puro e tenaz,
dá sentido ao tempo, ao ser e ao viver.