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FEBRE
Afinal, o que é a paixão?
É o ventre que gira em espiral,
o coração em descompasso,
um abismo que sorri,
enquanto devora em silêncio?

É a lembrança que mente,
tinta borrada em papel de chuva,
uma história recontada
por mil vozes dentro de mim?

É perder o nome na vertigem,
ser outra, desfeita e refeita,
nos olhos de quem chegou
como vento leve —
e se fez furacão?

É brisa de mar em tarde calma
ou maremoto que arrasta os sentidos?
É sede que não se sacia,
mesmo que o corpo beba
do próprio desejo?

Que nome tem esse arrepio,
esse incêndio sem fósforo,
essa febre que me queima
e só recua
na sombra da tua presença?

Quem és tu, que tomaste meus sonhos,
assaltaste meus dias
e agora vives entre as frestas
de tudo o que penso?

És calmaria ou naufrágio?
És bênção ou maldição?
És essa ausência tão presente
que pesa mais que tua mão?

E por que mesmo de longe
teu nome ecoa em mim
como um chamado ancestral,
como se meu corpo soubesse
que te ama há mil vidas?

Essa febre não cede —
nem com oração, nem com sono.
Só tua voz é o antídoto,
só tua pele o remédio.

És tu, razão da minha vertigem,
meu mistério sem mapa,
minha dúvida mais bonita.

És tu, que transformaste
o simples existir
em espera inquieta,
em poesia doída.
Tatiana Pereira Tonet
Enviado por Tatiana Pereira Tonet em 08/04/2025
Alterado em 08/04/2025
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